domingo, 22 de abril de 2012

ABORTO



Depois de tanto ter cuidado
De ter minunciosamente formulado
De estar sempre ao teu lado
De estar sempre ao teu regalo
De nunca provocar tua inconstância
De sempre te fazer sentir abundância
De tanto amor carinho em constância
E apesar de tudo
Ao revés e de encontro
Tu me jogaste ao chão
Tu me largaste no vão
Antes de mostrar-me a ti
Antes de jogar-me aí
Abortaste-me sem álibi
Atiraste-me no peito
Como Judas, um beijo
Jogaste-me ao leito
Moribundo, sujo, feio
Suicidaste-me num ato
Manchaste teu retrato
E agora, então?
O que restou no vão,
No chão, anão...
Desilusão
Solidão.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Parente consanguíneo



Antes e depois de tudo que me vem à cabeça
Sempre há algo que, não importa o que aconteça,
Será sempre meu parente consangüíneo, gêmeo
Que me acompanhará nos recônditos, descortinos
Cujo nome é o único e imperfeito: a tristeza
Esta, apesar das alegrias, envolver-me-á
Encontrar-me-á, inebriar-me-á
Dos fortúnios meus, trar-me-á o esplendor
Das certezas minhas, far-me-á o vencedor
Porque ela é minha, porque ela sou eu
A tristeza em mim é sublime
E tudo que me vem dela sou eu